Em meados de março de 2023, iniciava-se uma investigação eletrônica que mudaria o entendimento sobre a importância histórica de Anchieta. O levantamento, conduzido através de arquivos públicos, fileterias e leilões eletrônicos de cartões postais antigos, revelou a existência do Porto do Mandoca, imortalizado em 1939 pelo artista Álvaro Conde. A pedido de Dom Helvécio, Conde passou uma semana em Anchieta, capturando a essência paisagística da cidade, incluindo a Igreja Matriz, o centro da cidade, o Porto de Cima e o Porto do Mandoca, local onde eram retratadas as caieiras.
A investigação revelou que onde havia caieira, existia sambaqui, um vestígio arqueológico utilizado na produção de cal a partir de conchas de ostras, essencial para a construção durante o período colonial brasileiro. As pesquisas aprofundaram-se na história local, levando os pesquisadores ao local, onde avistaram um morro repleto de detritos de conchas trituradas. A conclusão era clara: tratava-se de uma localidade de grande relevância histórica, reconhecida por Dom Helvécio, figura de destaque que fora bispo de Mariana e respeitado por muitos.
Entretanto, essa importância histórica foi desconsiderada quando, em 2007, um emissário submarino foi instalado pela Cesan, sem a consulta ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que desconhecia a existência do sambaqui. Após a descoberta do sambaqui do Porto do Mandoca, a associação comunitária entrou em contato com o Iphan através da Controladoria-Geral da União (CGU). O local foi oficialmente tombado e cadastrado no sistema de gestão do Iphan, tornando-se parte do patrimônio histórico brasileiro, agora sob proteção federal.
A importância histórica do local, reconhecida por Dom Helvécio, contrasta com a atual subutilização e degradação. O potencial econômico e cultural do Porto do Mandoca, que poderia impulsionar a economia local, foi negligenciado, refletindo um esquecimento das raízes históricas pelos governantes. João Simas, Presidente da Associação Comunitária do Bairro Benevente (ACBB), expressou sua frustração: “Quando a gente se esquece de onde a gente veio, possivelmente, a gente não vai chegar em lugar nenhum. Exemplo disso é a situação com que se encontra a nossa cidade na atualidade.”
Diante da descoberta e do tombamento do Porto do Mandoca, iniciou-se uma batalha pela preservação. “Mandoca tombada, partimos então para as lutas. Nessa tentativa, foram acionados todos os órgãos, sendo eles da esfera estadual, municipal e federal,” afirmou João Simas. Recentemente, a ACBB notificou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) pelo descumprimento das recomendações do Conselho Federal, trazendo impactos significativos.
O caso ganhou visibilidade em veículos como Brasil de Fato e Século Diário, destacando a perda histórica e o impacto na comunidade. A ACBB agora busca reparar os danos, considerando ações judiciais ou a intervenção do Ministério Público com uma ação civil. “Isso é algo que a gente tem que conversar, tem que discutir. E eu acredito que em breve chegaremos a uma conclusão disso tudo,” concluiu João Simas.
A expectativa é de que, em breve, uma solução seja alcançada, resgatando e preservando o legado histórico do Porto do Mandoca para as futuras gerações.
Arte, História e Sambaquis em Anchieta
Em 1938, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, então arcebispo de Mariana e natural de Anchieta, convidou o artista Alvaro Conde para pintar monumentos, casarios e cenários marinhos da cidade de Anchieta. Conde passou algumas semanas na cidade e produziu uma coleção de pequenas telas, algumas das quais estão agora no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. É importante destacar que, na época, Conde ainda não havia alcançado a maestria que marcaria suas obras de dez anos depois.
Um ano após o convite de Dom Helvécio, Conde retratou a cidade de Anchieta, despertando curiosidade sobre a escolha do local. Dom Helvécio, nascido em Anchieta em 1876, provavelmente conhecia algo significativo sobre a região.
Posteriormente, descobriu-se que a área era rica em sambaquis, construções humanas feitas por grupos que ocuparam a costa do Brasil há cerca de 8.000 anos. O auge da construção dos sambaquis ocorreu entre 4.000 e 2.000 anos atrás. Por volta de 1.000 anos atrás, essa prática cultural foi abandonada, coincidindo com a chegada de outros grupos ao litoral.
(DA REDAÇÃO \\ Guto Gutemberg)
(INF.\FONTE: Fabiano Peixoto \\ Capixaba News)
(FT.\CRÉD.: Internet \\ Divulgação)
